segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

ÚLTIMAS DO SIONISMO

Esta é especialmente dedicada a quem costuma botar no mesmo saco israelenses e palestinos.

Jerusalém, 2 fev (EFE).- Um relatório secreto elaborado pelo Ministério da Defesa de Israel mostra que o Governo tolerou e impulsionou a construção ilegal em terras privadas palestinas nas colônias judaicas na Cisjordânia, informa hoje o jornal "Ha'aretz".Os dados contidos no relatório "Spiegel" começaram a ser reunidos há quatro anos e indicam que essas edificações construídas em terrenos pertencentes a particulares palestinos não são apenas casas de colonos, mas também delegacias de Polícia, escritórios municipais e sedes de bombeiros.Os dados do dossiê documentam que, em 75% dos assentamentos judaicos em território palestino, houve a construção sem a devida autorização e que, em pelo menos 30 das mais de 120 colônias, foi edificado de forma ilegal em terras privadas pertencentes a cidadãos palestinos.As colônias judaicas na Cisjordânia são consideradas ilegais pela legislação internacional, mas os tribunais e autoridades israelenses permitem a construção nos principais blocos de assentamentos, que o Estado judeu considera que ficarão em solo israelense em qualquer acordo de paz com os palestinos.O relatório, elaborado por uma equipe dirigida pelo general Baruch Spiegel, ajudante do então ministro da Defesa, Shaul Mofaz, mostra, no entanto, que a maioria das colônias se expandem de forma ilegal dob a própria legislação israelense com o conhecimento do Governo.De fato, a construção ilegal - diz o jornal - é impulsionada pelo próprio Executivo de Israel através do Ministério de Construção e Habitação, e não é controlada pela Administração Civil, organismo que administra os territórios palestinos ocupados.A informação contida nesse dossiê é contra a postura oficial do Estado, que indica, por exemplo, no site do Ministério de Exteriores que "as ações de Israel referentes ao uso da terra sob sua administração são tomadas com estrita consideração às normas da legislação internacional".

Fonte: http://br.noticias.yahoo.com/s/02022009/40/mundo-israel-tolerou-promoveu-construcao-ilegal.html

ACESSO À UNIVERSIDADE É MERCADORIA, PORQUE NÃO TAMBÉM O ACESSO AO CAMPUS DA UNIVERSIDADE?

Quem é cutucado e não cutuca fica lelé da cuca. E faz tempo que eu me sinto cutucado pelo “capitalismo politicamente correto” dos eventos esportivos que ocorrem, freqüentemente, na Cidade Universitária. Este assunto dá margem para a discussão de vários problemas de uma metrópole como São Paulo (que pretendo, inclusive, abordar em postagens futuras), mas por enquanto eu destacarei apenas um aspecto: o campus da USP (com mais de 700.000 metros quadrados que incluem áreas verdes, espaços adequados à prática do ciclismo, de caminhadas e corridas, além de cinco museus)[1] permanece fechado na tarde de sábado e durante todo o domingo. Só se pode entrar apresentando carteirinha da USP ou...comprovante de inscrição num evento esportivo privado que esteja ocorrendo na Cidade Universitária.
Pois bem, vamos a um estudo de caso, exemplarmente localizado no dia do aniversário de 455 anos de São Paulo: o Bike Tour, edição brasileira do evento que começou em Portugal no ano de 2006. A Cidade Universitária foi escolhida para ser o ponto final do passeio ciclístico, porque a "excelência de instalações, espaços verdes e estruturas desportivas [permitiria] todas as condições para uma chegada com segurança e em ambiente de festa".[2] Segundo as palavras do próprio presidente do comitê organizador do Bike Tour, Diamantino Nunes, o evento visa a promover o "desporto para todos". Ora, eu não sei se os organizadores portugueses ou a totalidade dos 5000 participantes do passeio ciclístico tem conhecimento disso, mas o fato é que o campus da USP-Butantã não está aberto a todos, ainda que seja mantido com o dinheiro de todos. Aliás, no dia do evento (um feriado) mesmo um aluno da USP não podia entrar no Centro de Práticas Esportivas da USP (CEPEUSP), enquanto a ala VIP do Bike Tour (que tinha até mesmo um trajeto exclusivo no passeio) curtia uma festa lá dentro[3].
Não é a primeira vez que o "Cepê" trata o público como privado: o Jornal do Campus, produzidos pelos alunos de jornalismo da USP, já abordou em suas páginas o aluguel do espaço da universidade para eventos esportivos e até mesmo para uma revista fotografar modelos seminuas. E como se não bastasse, o dinheiro arrecadado com isso é um segredo, e os jornalistas não conseguem encontrar ninguém que aceite falar sobre o assunto. Que lógica justifica que um espaço com tal "excelência de instalações, espaços verdes e estruturas desportivas", sem falar dos museus, construído e mantido com dinheiro público, permaneça fechado aos finais de semana numa cidade como São Paulo, carente de verde e espaços de esporte, cultura e lazer? Isso sem falar no Hospital Universitário. Imagine ter que contornar uma área de mais de 700.000 metros quadrados, ao invés de atravessá-la, para obter atendimento médico...
Alguns anos atrás, o campus da Cidade Universitária era aberto ao público. “Havia vários campos de futebol, concursos de pipas, shows musicais e outras atividades que reuniam milhares de pessoas”.[4] O campus passou a ser fechado nos finais de semana a partir de 1995, pela gestão do reitor Flávio Fava de Moraes, e sob os auspícios do tucanato que se instalara naquele ano no governo paulista, com a eleição de Mário Covas. As justificativas apresentadas para o fechamento (que trabalharei com mais atenção em outra postagem) relacionavam-se, basicamente, com a falta de uma infra-estrutura de parque, especialmente nas questões de limpeza e zelo pelo patrimônio público.[5] Acho curiosa essa argumentação, porque não imagino que fechariam, por exemplo, o parque do Ibirapuera alegando falta de banheiros, guardas e zeladores.
O argumento central da reitoria e do governo costuma ser o de que o campus do Butantã não se destina ao lazer e ao esporte da população de São Paulo, mas sim a abrigar a universidade que tem outras preocupações, ligadas à pesquisa e à produção de conhecimento. Eu gostaria de saber se uma coisa exclui a outra. Quero que me provem que o jogo de futebol, o campeonato de pipa, a venda de cachorro quente, o passeio de bicicleta atrapalham as atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade de São Paulo. Principalmente aos finais de semana. Talvez o argumento esteja ainda pouco desenvolvido. Seria preciso pedir que demonstrassem como a baixa densidade populacional do campus seria fundamental para a qualidade das pesquisas universitárias. Que a visão freqüente de gente pobre sem nível superior, ou mesmo secundário, ou mesmo primário, pode alterar negativamente a produção de conhecimento. E principalmente, que a sensação de exclusividade, de ter direito a certos confortos especiais, é muito importante para incentivar a produtividade do mundo universitário.
A título de curiosidade: eu soube do Bike Tour durante a chegada dos ciclistas, e fui conversando com alguns deles para obter informações sobre o evento. Conversei inclusive com os seguranças da portaria, a respeito da lógica que presidia aquela “seleção” na entrada do campus. Depois de voltar do supermercado eu, que havia afirmado aos seguranças da portaria que não era aluno, entrei tranqüilamente pela saída de pedestres, ao lado da saída de veículos, e não fui abordado, porque os homens que lá cumpriam seu dever estavam por demais ocupados em pedir carteirinhas e credenciais na entrada de veículos.
Agradeço à Talitha Lessa pela idéia usada no título.

[1] http://sistemas.usp.br/anuario/
[2] Revista promocional “bike tour em são paulo”, entregue aos participantes do evento.
[3] Idem
[4] “USP cada vez mais distante da população”: http://www.grupo1.com.br/29.04.05.html
[5] http://books.google.com.br/books?id=ZuZYepccYxkC&pg=PA265&dq=usp+70+anos&source=gbs_selected_pages&cad=0_1#PPA273,M1